Burnout: quando o cansaço vira adoecimento

19 de setembro de 2025

Nos últimos anos, o termo burnout deixou de ser um jargão restrito ao mundo corporativo para se tornar parte do vocabulário de milhões de pessoas.

Não à toa: a síndrome do esgotamento profissional foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um problema de saúde relacionado ao trabalho. E, cada vez mais, vemos histórias de pessoas que adoecem não apenas pelo excesso de tarefas, mas por ambientes tóxicos, cobranças desumanas e falta de reconhecimento.


No Brasil, pesquisas apontam que somos um dos países com maior incidência de burnout no mundo. Entre as mulheres, o impacto é ainda mais severo. Além das exigências profissionais, recaem sobre elas a sobrecarga doméstica e o cuidado com a família, formando uma combinação explosiva para a saúde mental. O resultado é um cansaço que não se resolve com uma boa noite de sono, mas que corrói a autoestima, a produtividade e, sobretudo, a qualidade de vida.


Falar sobre burnout é também falar sobre direitos trabalhistas e dignidade humana. Precisamos questionar a lógica de que vale tudo em nome da produtividade. É urgente a necessidade de construir ambientes de trabalho mais saudáveis, que respeitem limites e enxerguem pessoas antes de números. E é justamente sobre isso que trago reflexões no meu próximo livro, que nasce da minha própria vivência e da certeza de que não podemos mais normalizar o adoecimento coletivo.


O burnout não é fraqueza individual, mas um sintoma de uma cultura que glorifica a exaustão. Romper com esse ciclo significa assumir que cuidar de si não é luxo, é resistência. E que a vida precisa valer mais do que a próxima meta a ser batida.


Aline Teixeira

29 de setembro de 2025
Na última terça-feira, 23, em Dona de Mim , a trama chocou ao mostrar Kami (interpretada por Giovanna Lancellotti) sendo vítima de violência sexual perpetrada por um stalker. A cena não tem exploração explícita, mas o impacto foi forte: roupa rasgada, sangue, o choque emocional, o desespero, a reação de vergonha e culpa. Esse episódio, interpretado e narrado com muita delicadeza, nos leva a uma reflexão urgente. São muitas mulheres que passam por abusos parecidos, muitas vezes gerando danos que se estendem por muito tempo. Sejam por um stalker, por alguém conhecido, ou até familiar, a violência sexual deixa marcas que vão muito além do corpo: trauma, culpa, vergonha, medo. Kamila representa todas essas mulheres. Denunciar é um dos passos mais difíceis, mas também um dos mais decisivos. Na novela, Kami busca ajuda: dialogue com amigos, confesse o ocorrido, vá à delegacia — ações que resgatam parte do poder que a violência tenta roubar. Denunciar não é apenas responsabilizar quem errou, é também dizer para si mesma: “eu mereço justiça, eu mereço proteção”. Mas a denúncia é apenas parte do caminho. Depois do crime, é preciso acolhimento psicológico e emocional. Terapia de apoio, grupos de escuta, redes de solidariedade. A exemplo do que Giovanna relatou sobre os bastidores: o peso das emoções no set, o cuidado da produção, a necessidade de preparar a cena para evitar revitimizações. É isso que deve existir também na vida real: estruturas que acolham, compreendam, respeitem o tempo de cada mulher para reagir, para aceitar ajuda, para se reerguer. Também é fundamental que o sistema de justiça funcione com empatia. Que a vítima seja escutada de forma humana, que sua palavra seja respeitada, que haja sigilo, que o atendimento seja seguro. Porque, sem isso, a denúncia pode se tornar uma segunda violência. Se você viveu algo parecido, ou conhece alguém que vive, a mensagem de Dona de Mim serve como alerta e como convite: você não está sozinha. Buscar ajuda não é fraqueza, é coragem. Ligue 180, Delegacia da Mulher, serviços de saúde mental, ONGs que trabalham com atendimento às vítimas. Esses são caminhos reais. Aline Teixeira
26 de setembro de 2025
Crescemos ouvindo que deveríamos evitar ruas escuras, roupas curtas, conversas com estranhos. E mesmo assim, não estamos seguras. O medo nos acompanha no ponto de ônibus, no estacionamento do mercado, dentro de casa, no transporte público, nas festas, no trabalho. Ele é uma presença constante, e não uma exceção. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2024, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 6 horas no Brasil. A maioria dessas mortes aconteceu dentro de casa, e muitas dessas mulheres já haviam denunciado seus agressores. O sistema as ouviu — mas não agiu. Não estamos falando apenas de estatísticas. Estamos falando de vidas interrompidas, de mães, filhas, amigas. Estamos falando de nós. E mais: segurança não é só sobreviver. É viver sem medo. É poder andar na rua à noite sem apertar as chaves entre os dedos. É sair para correr sem monitorar o caminho. É não ter que se justificar por estar sozinha, ou por querer ir embora. É ter uma delegacia especializada que funcione. É ter políticas públicas permanentes e não ações pontuais. É ter mulheres fazendo leis, julgando casos, ocupando o poder. A nossa segurança passa por representatividade, por investimento, por educação. E, acima de tudo, por vontade política. Ainda não estamos seguras porque essa vontade, muitas vezes, nos ignora.  Mas seguimos. Ocupamos as ruas, as assembleias, os coletivos. Denunciamos, organizamos, resistimos. Porque enquanto não estivermos todas seguras, nenhuma de nós estará. E é por isso que seguimos lutando. Por nós e pelas que virão. Aline Teixeira